quinta-feira, 31 de maio de 2012

O Amor Acaba

Apresentação áudio-visual da Crônica "O Amor Acaba" (autor e texto citados no vídeo).

quarta-feira, 30 de maio de 2012

A Cobrança

Vídeo feito sobre a Crônica "A Cobrança" (cujo texto já foi apresentado neste blog).

Do Rock: Performance

O vídeo abaixo é uma interpretação da crônica de Carlos Heitor Cony: "Do Rock" (texto apresentado em postagem anterior).


sexta-feira, 18 de maio de 2012

EU SONHO DE MAIS


Por: Kelly Rocha

Fiquei horas tentando entender a carência de algumas pessoas. As pequenas mentiras que contam. As histórias que fantasiam em silêncio ou pelos quarteirões e suas conclusões. É claro que não entendi nada, mas pensei bastante.

Eu sou daquelas pessoas que abraçam, que abraçam muito. Já dei muitos telefonemas, hoje em dia só recebo. Tenho muitos assuntos, mas poucas palavras, e um pouco da carência que eu sinto está indo embora aos poucos, deixando só o suficiente.

As mentiras ainda conto, mas nada muito cabeludo. Mentirinhas curtas para sair de alguma situação chata, essas coisas. Fantasio histórias. Coloco algumas em papel e guardo outras em alguma gaveta escondida do meu cérebro. Passo dias tentando achar soluções e finais para tudo.

Acredito que o bom da vida é ter sonhos. Eles são o tempero de tudo, a graça, a cor. É, eu sonho tanto. Misturo tudo com realidade. Sonho, e sonho sem parar. É sonho de festas, de bolos de chocolate, de salão, estrada vazia, sorvete de morango, chuva todos os dias na hora de dormir, céu de estrelas, lua nova hoje, lua cheia amanhã, beija-flor no quintal, um amor perfeito aqui, uma roseira carregada ali. Um sonho de verão, um presente de Natal todo mês, sorriso de criança, leite condensado e morango. Acho que todo sonho é doce. Se não for assim, não é sonho. É qualquer coisa, menos sonho.

Mas por que mesmo eu disse tudo isso? Ah, claro! Porque carência e sonho têm tudo a ver. O sonho alimenta a alma, ele vem e nos recarrega, cativa vários sorrisos em meio a suspiros. Quanto mais sonhamos, mais nos sentimos vivos, mais nos sentimos abraçados. E, se sonhamos direito, cabemos direitinho nele. E aí eu me pergunto: pessoas carentes sonham de mais, ou sonham de menos?

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Interpretação: "A Tristeza Permitida"

Interpretação do texto de Marta Medeiros. Texto apresentado na íntegra no próprio vídeo.



Leitura da Crônica "Peladas"


Este vídeo é uma releitura da crônica "Peladas", que pode ser lida, na íntegra e com os devidos créditos, logo abaixo.



Peladas
Armando Nogueira

Esta pracinha sem aquela pelada virou uma chatice completa: agora, é uma babá que passa, empurrando, sem afeto, um bebê de carrinho, é um par de velhos que troca silêncios num banco sem encosto.

E, no entanto, ainda ontem, isso aqui fervia de menino, de sol, de bola, de sonho: "eu jogo na linha! eu sou o Lula!; no gol, eu não jogo, tô com o joelho ralado de ontem; vou ficar aqui atrás: entrou aqui, já sabe." Uma gritaria, todo mundo se escalando, todo mundo querendo tirar o selo da bola, bendito fruto de uma suada vaquinha.

Oito de cada lado e, para não confundir, um time fica como está; o outro jogo sem camisa.

Já reparei uma coisa: bola de futebol, seja nova, seja velha, é um ser muito compreensivo que dança conforme a música: se está no Maracanã, numa decisão de título, ela rola e quiçá com um ar dramático, mantendo sempre a mesma pose adulta, esteja nos pés de Gérson ou nas mãos de um gandula.

Em compensação, num racha de menino ninguém é mais sapeca: ela corre para cá, corre para lá, quiçá no meio-fio, pára de estalo no canteiro, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa, rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho.

Aqui, nessa pelada inocente é que se pode sentir a pureza de uma bola. Afinal, trata-se de uma bola profissional, uma número cinco, cheia de carimbos ilustres: "Copa Rio-Oficial", "FIFA - Especial." Uma bola assim, toda de branco, coberta de condecorações por todos os gomos (gomos hexagonais!) jamais seria barrada em recepção do Itamarati.

No entanto, aí está ela, correndo para cima e para baixo, na maior farra do mundo, disputada, maltratada até, pois, de quando em quando, acertam-lhe um bico, ela sai zarolha, vendo estrelas, coitadinha.

Racha é assim mesmo: tem bico, mas tem também sem-pulo de craque como aquele do Tona, que empatou a pelada e que lava a alma de qualquer bola. Uma pintura.

Nova saída.

Entra na praça batendo palmas como quem enxota galinha no quintal. É um velho com cara de guarda-livros que, sem pedir licença, invade o universo infantil de uma pelada e vai expulsando todo mundo. Num instante, o campo está vazio, o mundo está vazio. Não deu tempo nem de desfazer as traves feitas de camisas.

O espantalho-gente pega a bola, viva, ainda, tira do bolso um canivete e dá-lhe a primeira espetada. No segundo golpe, a bola começa a sangrar.

Em cada gomo o coração de uma criança.

Extraído do livro "Os Melhores da Crônica Brasileira", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1977, pág. 29.